Na madrugada de 5 de Julho de 1924, tropas rebeladas do Exército, em São Paulo, se deslocaram ao quartel da Força Pública estadual, no bairro da Luz, onde instalaram o Estado Maior, sob comando do general Isidoro Dias Lopes. Começava a Revolução de 1924, mais sangrento episódio das revoltas tenentistas, que culminaram na Revolução de Trinta.
Em poucas horas, tropas federais, deslocadas de navio ao porto de Santos, tomaram a estrada de ferro São Paulo Railway, conseguindo chegar à estação de São Caetano, ainda pequena localidade paulista.
A noite, primeiro confronto entre rebeldes e legalistas na estação do Ipiranga, prosseguindo noutros pontos da Capital. Durante 23 dias de inverno rigoroso, a cidade de São Paulo e seus subúrbios sofreram a tragédia da guerra civil.
Um terço da população de setecentos mil habitantes, em números aproximados, fugiu para o Interior, lotando os poucos trens disponíveis. Os que não puderam escapar, tentaram alcançar o subúrbio, controlado pelas tropas legalistas. Em pouco tempo, a população em pânico e faminta começou a assaltar armazéns, mais de cem empresas foram saqueadas. O governador de São Paulo e seus secretários abandonaram a Capital e se refugiaram na estação Guaiauna, da Central do Brasil, de onde as tropas federais bombardeavam o centro da cidade e os bairros operários do Brás, Mooca, Belenzinho, Cambuci, Ipiranga e Vila Mariana.
Foram cerca de quinhentos mortos, a maioria da população civil, suspeita de colaboração com o inimigo, na vigência da lei marcial. A 22/07, aviões do Exército começaram a bombardear São Paulo, possivelmente a única Capital brasileira a ter sofrido bombardeio aéreo. A classe operária - maioria de imigrantes italianos e seus descendentes - mal entendeu o que estava acontecendo. Apenas sofreu as consequências de uma revolução que não era a sua. Decorridos vários dias, os rebelados divulgaram um manifesto, anunciando os objetivos da revolta: renúncia do presidente Artur Bernardes, convocação de uma Constituinte, voto secreto e outras reivindicações políticas. Nada que pudesse interessar, de imediato, os trabalhadores quanto a salários, jornada de trabalho e direitos sociais.
Casas explodiam com famílias inteiras lá dentro. Mortos foram sepultados nos terrenos baldios de áreas atacadas. Verdadeiros cemitérios existiram nos terrenos vazios do Ipiranga e de outros bairros. Depois da guerra, grupos perambulavam por esses cemitérios improvisados para exumar corpos em decomposição e levá-los para sepulturas definitivas. Panfletos foram lançados de avião, conclamando os moradores a deixarem a cidade. Mesmo sem a desocupação, os ataques e bombardeios foram praticados. Os poucos grupos operários que procuraram o comandante Isidoro, no quartel da Luz, para aderirem à revolução, não foram recebidos, embora o general recebesse facilmente os representantes da Associação Comercial.
No dia 28/07, a cidade amanheceu, finalmente, desocupada. As forças rebeldes entenderam que seria destruída se não o fizessem. Deslocaram-se com equipamentos por ferrovia para o Interior e para o Sul. Encontraram os revolucionários gaúchos, de que resultaria a Coluna Prestes. São Paulo estava arruinada. Mais de trezentas trincheiras tinham sido abertas nas ruas. Numerosas fábricas incendiadas nos bombardeios. Casas destruídas nos bairros pobres. Famílias dispersas e separadas. Em poucos dias, a repressão do governo federal se abateria sobre a cidade. Grande número de pessoas foi submetido ao inquérito policial- militar. Cento e setenta volumes do processo quase se perderam quando o arquivo do Tribunal de Justiça, na vila Leopoldina, foi invadido pelo rio Pinheiros, numa de suas inundações (1).
Além de altos chefes militares, articularam a revolta oficiais de média patente, destaque ao capitão do Exército Joaquim do Nascimento Fernandes Távora, nascido no sertão cearense, município de Jaguaribe-CE, em 15/07/1881, filho de camponeses pobres, mas descendente de nobres portugueses implicados em tentativa de regicídio, no reinado de D. José I e governo do Marquês de Pombal, obrigando familiares sobreviventes da severa repressão a se refugiarem no Brasil colonial, ainda no Século XVIII (2). Socialista ardoroso, cérebro e alma do movimento, Joaquim Távora morreu em combate, a 15/07/1924, no ataque ao quartel do Quinto Batalhão de Polícia, bairro da Liberdade, em São Paulo.
Antônio Fausto Nascimento, foi dirigente sindical e Secretário do Trabalho do governo de Pernambuco(1963/1964)