..::data e hora::.. 00:00:00

Artigos

Ministério pode mudar depois do carnaval

Ministério pode mudar depois do carnaval

Ao completar a marca dos dois anos de mandato, aumentou a pressão de aliados do Centrão para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promova mudanças no primeiro escalão. O próprio Lula já reconheceu a interlocutores a necessidade de mexer no time, a fim de garantir a governabilidade na reta final do mandato e fidelizar aliados para a coalizão da campanha à reeleição em 2026. A reforma ministerial, todavia, deve ficar para depois do carnaval.

As discussões ainda não estão maduras, mas os atuais presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), de saída dos cargos, serão ouvidos em todo o processo. O próprio Lula tem desejo de levar Pacheco para o primeiro escalão. Lira, por sua vez, já disse a interlocutores que não tem interesse em ser ministro. Mas ele deve indicar um aliado para alguma pasta na reforma em gestação.

“Acho que é natural que tenha a reforma após as posses nas presidências das duas Casas”, disse um ministro ao Valor sobre as alterações na equipe lulista. Ele ressalvou, contudo, que essa reforma não será feita por causa do resultado das eleições municipais, nas quais o Centrão fez o maior número de prefeituras, e sim, com vistas às alianças para a campanha sucessória de 2026.

Uma das queixas recorrentes, que remonta ao primeiro ano do mandato, é de que Lula montou um núcleo político no Palácio do Planalto formado exclusivamente por petistas, dificultando o diálogo com os demais partidos da base governista. Entre lideranças da base, a percepção é de que o presidente conduz um “governo de amigos”, com a participação restrita das demais legendas nas grandes discussões, como se deu, recentemente, com a formulação do pacote de contenção de gastos.

Em evento do PT na sexta-feira (6), Lula sugeriu que um dos alvos das mudanças pode ser a Secretaria de Comunicação Social (Secom), embora não tenha citado, diretamente, o ministro Paulo Pimenta. Lula fez um “mea culpa”, disse que seu governo tem errado na comunicação, mas que fará as “correções necessárias”. Não mencionou, contudo, quando isso ocorrerá, nem se atingirão Pimenta, que é do PT, e um dos quadros historicamente mais ligados ao presidente.

O fato é que lideranças do Centrão vêm cobrando mudanças também nos gabinetes palacianos. Nesse contexto, passou a circular o nome do titular de Minas e Energia (MME) e ex-senador, Alexandre Silveira, do PSD, para uma cadeira no Planalto. Nos últimos meses, Silveira tornou-se um dos ministros mais próximos de Lula, e toca de ouvido com o titular da Casa Civil, Rui Costa. No anúncio do acordo comercial Mercosul-União Europeia, no Uruguai, Silveira estava sentado na mesa ao lado de Lula.

A se confirmar a saída de Silveira do MME, o nome dele vem sendo ventilado para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI). Em contrapartida, caberia a Alcolumbre indicar o novo ministro do MME. Mas, isso, somente na hipótese de Lula optar pela substituição da ministra da Saúde, Nísia Trindade, pelo ministro Alexandre Padilha, atual articulador político. No governo Dilma Rousseff, Padilha comandou a Saúde.

Um ministro de um dos partidos do Centrão defende que Lula leve para o novo ministério interlocutores que possam cobrar dos futuros chefes do Legislativo - deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) e senador Davi Alcolumbre (União-AP), ambos virtualmente eleitos - os compromissos empenhados por eles com o governo ao longo de suas campanhas.

Ainda segundo este ministro, o principal compromisso firmado por Motta e Alcolumbre com Lula foi priorizar em suas gestões a agenda econômica no Congresso, bem como evitar retrocessos na área de costumes. Ele observa que sem o apoio do PT, Hugo Motta enfrentaria uma campanha difícil na Câmara, e Alcolumbre teria mais obstáculos no Senado. “O apoio do PT e do governo foi decisivo para a vitória de ambos”, alertou este auxiliar presidencial.

Um desafio, segundo um outro ministro, seria levar MDB e PSD para a coalizão da reeleição já no primeiro turno. Em 2022, ambos ficaram independentes. No segundo turno, Simone Tebet, candidata derrotada do MDB no pleito presidencial, declarou apoio a Lula. Por isso, a ideia é que Lula rediscuta com lideranças das duas siglas o espaço delas no governo.

Um movimento para atrair o MDB já no primeiro turno seria oferecer a vaga de candidato a vice-presidente ao partido. Dois nomes são ventilados nos bastidores: o do governador do Pará, Helder Barbalho, e o do ministro dos Transportes, Renan Filho. Ainda assim, uma liderança do MDB pondera que o partido continua rachado, entre bolsonaristas e lulistas, e nesse cenário, o apoio à reeleição de Lula teria de ser levado a voto na convenção nacional da legenda.

Outro complicador é que Lula não decidiu se abre mão do vice Geraldo Alckmin (PSB) ao seu lado na campanha sucessória. Uma liderança petista argumenta que Alckmin deveria concorrer ao Senado em 2026, porque seria o único nome da base governista com chance de se eleger para um cargo majoritário no Estado, essencialmente conservador.

Fidelizar o PSD já no primeiro turno é outro desafio, até porque o presidente da sigla, Gilberto Kassab, é uma das principais vozes a favor da legenda lançar um candidato à Presidência em 2026. Um dos mais cotados é o governador do Paraná, Ratinho Júnior. Além disso, o PSD é tão dividido, regionalmente, quanto o MDB. Em São Paulo, por exemplo, Kassab é secretário de Governo do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Lula quer manter por perto, todavia, o PSD mineiro, porque tem em seus planos apoiar a candidatura de Rodrigo Pacheco ao governo de Minas Gerais em 2026. Para isso, uma possibilidade é nomear Pacheco para o Ministério da Justiça e Segurança Pública, garantindo uma vitrine nacional ao aliado até a campanha eleitoral.

Para isso, entretanto, Lula teria de afastar o ministro Ricardo Lewandowski, que abriu mão de projetos pessoais para integrar-se ao governo petista. Uma fonte a par desses movimentos ponderou que - se essa mudança se confirmar - Pacheco se comprometeria em articular o avanço da PEC da Segurança Pública, bandeira de Lewandowski, no Congresso.

Na Câmara, todavia, a bancada do PSD também pleiteia um espaço maior do que a atual Secretaria da Pesca, hoje sob o comando do ex-líder André de Paula. Nenhum desses movimentos, entretanto, deverá se concretizar antes de março.

Andrea Jubé, jornalista e Fabio Murakawa, jornalista

Fonte: https://valor.globo.com/