Na próxima sexta-feira, se inicia mais uma campanha eleitoral no Brasil. Desta vez, cidadãos e cidadãs se preparam para escolher seus representantes nas câmaras municipais e nas prefeituras. Como tem sido tendência nos últimos pleitos, o cenário indica mais uma concorrência voltada à polarização entre os candidatos, novamente com a pauta de costumes ganhando contornos de peso, ainda que apurações municipais tendam, historicamente, a serem mais recortadas para políticas públicas, como transporte público, saúde e educação. O que, no entanto, precisa ser prioridade para a classe política e para as autoridades é frear a crescente onda da abstenção.
A jovem democracia brasileira pede uma participação maior da população no processo eleitoral, afastando o velho e ignorante pensamento de que, “como ninguém presta, não vou votar”. Essas posições de negação da política levam o Brasil a um cenário no qual eleitos pouco têm a ver com o perfil da população do ponto de vista demográfico.
Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) comprovam como a falta de participação popular tem crescido nas últimas eleições. Em 2022, o índice de abstenção bateu 20,95%, o maior de todos os seis pleitos federais realizados no século 21. Esse dado cresce desde 2006, quando 16,75% das pessoas aptas a votar não apareceram. O número passou para 18,12% em 2010; 19,39% em 2014; 20,3% em 2018; e chegou aos 20,95% há dois anos.
Quando a análise se volta ao pleito municipal, a abstenção se torna ainda maior. Em 2020, 23,15% dos eleitores aptos não apareceram. O índice era de 14,19% em 2004, passou para 14,53% em 2008, 16,41% quatro anos depois, e bateu 17,58% em 2016. Ainda nesse cenário, é fundamental que os homens e mulheres com acesso às urnas cumpram com o seu dever de participação no processo eleitoral e escolham vereador(a) e prefeito(a) que mais os(as) representem.
Quem nega o voto, em primeiro lugar, renuncia a um direito conquistado pela população brasileira a partir de inúmeras mobilizações sociais que culminaram nas Diretas Já. Também fragiliza a própria cobrança daqueles que inevitavelmente vão ocupar as cadeiras legislativas e executivas nas cidades brasileiras. Conforme deixa clara a legislação eleitoral, “votos em branco ou nulos não são transferidos para o vencedor nem cancelam uma eleição”.
Não se trata de ignorar as nuances que envolvem a desigual população brasileira ou de cobrar quem, por motivos pessoais, não pode comparecer ao local de votação e, posteriormente, justifica o motivo da ausência. O chamado vale para quem, por opção, prefere renunciar ao direito tão duramente conquistado.
É notório que a democracia do país precisa amadurecer, sobretudo diante dos ataques de 8 de janeiro do ano passado. A partir do apito inicial do jogo da campanha política, se informe sobre os candidatos da sua cidade. Acompanhe-os nas redes sociais, mas também leia, ouça e veja o que a imprensa profissional vai noticiar e analisar sobre aquele determinado nome — afinal, os canais oficiais daquele candidato são institucionais, não críticos. É seu direito. É seu dever democrático.
Editorial do Correio Brasiliense de 14.08.2024